E- Elefantes e chá- uma realidade

Recentemente recebi dois vídeos do pessoal do chá de Assam. Em um deles, filmado no jardim Nonaipara de propriedade do grupo Goodricke. Uma câmera havia sido colocada discretamente perto de um bebedouro e capturou uma gloriosa manada de elefantes transitando, alguns parando para beber água. Foi maravilhoso ver que os elefantes não foram perturbados e, por sua vez, os arbustos de chá permaneceram intocados.( veja este video no final deste artigo)

O outro vídeo era diametralmente oposto. Filmado na propriedade Morongi em Upper Assam, mostra uma manada de elefantes cruzando um pequeno trecho da estrada que fazia parte de sua rota. Os espectadores reunidos começaram a importunar os elefantes. Finalmente, o último elefante, provavelmente o líder, se virou para a multidão, pisoteando até a morte um trabalhador de chá. Foi lamentável a perda de uma vida, mas também desnecessária, pois está claro que os elefantes só queriam ser deixados em paz; eles não tinham intenção de prejudicar ninguém, desde que também não fossem ameaçados.

Upper Assam- é uma divisão administrativa do estado de Assam que compreende os distritos não divididos de Lakhimpur e Sivasagar, do curso superior do vale de Brahmaputra.

Geralmente, elefantes e jardins de chá fazem parte da mesma conversa. Curiosamente, na Índia, todas as regiões de chá são o lar de elefantes, sejam as colinas de Darjeeling e Nilgiris, ou os vales baixos de Assam. Na verdade, um estudo recente, por Artitra Kastshettry e outros,  explorou o conflito homem-animal em jardins de chá (“Looking beyond protected areas”: onde identifica paisagens compatíveis com a conservação em mosaicos agroflorestais no nordeste da Índia ). Eles relataram que as duas espécies de animais que entram em conflito com o homem são os elefantes e os leopardos. A maioria das manadas de elefantes usa os jardins de chá como parte de seu movimento entre as florestas, já que estas áreas costumam ser uma extensão da floresta. Com grandes extensões de terra ocupadas por fazendas, é inevitável que esses jardins sejam utilizados pelos animais. Ambos os lados – humano e elefante – sofreram baixas ao longo dos anos. Embora tenha havido casos de pessoas sendo pisoteadas até a morte, há também eletrocução de elefantes, caça furtiva e morte e filhotes caindo em valas de drenagem. Relatos da mídia dizem que nos últimos 10 anos, pelo menos 812 pessoas morreram em Assam devido ao conflito entre humanos e elefantes. No distrito de Sonitpur em Assam, 206 mortes em humanos e 131 elefantes foram relatadas entre 1996 e 2009 (conforme relatado pelo World Wildlife Fund, Índia) com mais da metade das mortes em jardins de chá.

Elefantes passeando nos jardins de chá em Assam.

Desde então, o World Wildlife Fund tem trabalhado com jardins de chá na área, adaptando o “modelo Sonitpur”. Isso envolve a substituição da cerca elétrica por uma cerca solar que administra um choque de baixa intensidade ou uma bio-cerca feita de arbustos espinhosos. Outras etapas incluem educar as pessoas que vivem nas propriedades de chá, sobre como reduzir o conflito, para permitir a livre movimentação dos elefantes ao longo de seus caminhos usuais, fornecer bebedouros e evitar o desmatamento. O governo de Assam decidiu criar nove corredores para elefantes na parte leste do estado. Esta decisão foi tomada após um trágico incidente ocorrido em 12 de maio em Kandali Proposed Reserve Forest, no distrito de Nagaon, no centro de Assam, onde 18 elefantes, incluindo bezerros, foram mortos por um raio. Uma reportagem afirmou que, de acordo com o último censo, a Índia tem 27.312 elefantes, dos quais 5.719 estão em Assam. Em Nilgiris, na propriedade Craigmore, o Diretor Executivo MN Bopana fala sobre como eles lidaram com isso. Craigmore forma um limite distrital entre as colinas de Nilgiri e as planícies de Coimbatore. As propriedades da empresa em Manar e Palmyrah gerenciam o corredor dos elefantes que começa em Mukurthi e termina em Pelur. Em Craigmore, terras em pousio foram plantadas com Eucalyptus Grandis – por ser uma espécie resistente – e nas duas décadas desde seu plantio, ela fez parte do corredor de elefantes Kallar (um dos 20 corredores de elefantes no sul da Índia).

Eucalyptus Grandis na India

Na região de Terai, Sonia Jabbar, do jardim de chá Nuxalbari, decidiu começar cedo. Seu programa Hathi Sathi é sobre como sensibilizar os filhos dos trabalhadores da plantação de chá para que vivam em harmonia com os elefantes. Sua mídia social frequentemente mostra elefantes na propriedade, um modelo de como plantações de chá e elefantes podem subsistir sem conflito. Contudo, há muito trabalho a ser feito, e para cada jardim que protege esses amáveis gigantes, há outros que, no momento,  permanecem em conflito.

Em agosto de 2020, um elefante de um jardim de chá chegou ao noticiário. Bijuli Prasad, o elefante que vive na propriedade de chá Bihali, foi relatado como o elefante mais velho em um jardim, com cerca de 86 anos de idade. Em 1968, a Borgang Tea Company comprou Bijuli Prasad para arrancar velhos arbustos de chá. Ele ganhava um salário que pagava o salário de seu “mahout”, Thomas Murmu, e também sua comida e remédios, além de uma pensão. Bijuli Prasad já se aposentou, mas continuou com o grupo Magor. A Empresa tem duas pessoas para cuidar dele. Seus atendimentos médicos e alimentação são realizados, com atualizações semanais enviadas para a matriz. A dieta de Bijuli supostamente inclui 25kgs de arroz todos os dias com porções iguais de milho, grãos e melaço.

Embora tenhamos obtido a autorização da publicação deste video, todos os direitos e créditos são reservados aos autores  Nigel D´Souza e Niranjan, do Jardim de Chá Nonaipara em Assam.

Tradução livre: Elizeth R.S.v.d.Vorst

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