Uma planta e tantas escolhas!! Por onde começar?
Aqui estão algumas maneiras pelas quais ocorrem o cultivo, processamento e produção do chá, indicando uma gama de opções.
Perguntas fundamentais para conhecer melhor o seu chá:
Onde são cultivados: grandes plantações, pequenas fazendas, jardins de chá especiais
Como são cultivados: orgânicos, bio-gestão, controle permitido de pragas.
Como são colhidos: à máquina, manual, seletivamente manual
Como são processados: por máquinas de grande porte industrial, por pequenas máquinas especializadas, artesanal
Como são classificados: folha inteira, folha quebrada, grânulos ou pó.
Qual é as categoria: chá branco, amarelo (raro),verde, oolong, preto, pu erh
Qual é o tipo: chá puro, chá misturado, chá aromatizado
Qual a forma: chá a granel ou chá em saquinhos
Estas questões nos levam a dois pontos primordiais:
Mega marcas e chás artesanais
São dois extremos, derivados de duas trajetórias de produção muito distintas: o Agronegócio e o Artesanal.
Muitos produtores, entretanto, permanecem em algum ponto intermediário. O agronegócio é uma agricultura em grande escala para produzir produtos padronizados, preços baixos e grandes volumes. São produtos de uso diário, como todos os alimentos congelados e frutas à venda no supermercado. Relativamente ao chá, o agronegócio denota largos campos de terras baixas, uso de mecanização, processamento mecânico, provavelmente pouco orgânico.
O agronegócio é um modelo de commodity, projetado para disponibilizar em grande escala um produto padronizado. Cerca de 85% dos chás do mundo se enquadram nessa categoria e a maioria das marcas que você vai encontrar no supermercado é fruto do agronegócio. Eles são normalmente bem produzidos, embalados e atendem aos padrões internacionais de boas práticas em segurança, consistência e veracidade na publicidade. Eles também oferecem um bom valor para o preço.
As marcas artesanais são em menores escalas, produzindo chás de folhas inteiras, com foco na qualidade. Os fabricantes de chá artesanais prestam mais atenção à planta e à produção do chá. A cada estação, o chá é processado para destacar seus melhores atributos e sabores. Também é entre os chás artesanais que você provavelmente encontrará uma variedade de chás de folhas inteiras e experimentará os sabores mais completos de uma planta de chá.
Existem muitos e crescentes problemas na dependência ortodoxa de mão de obra qualificada na colheita. O mais óbvio é o custo. A trágica ironia é que, embora os trabalhadores do chá estejam entre os mais mal pagos em qualquer indústria global, eles ainda são muito caros para que cada vez mais produtores tenham lucro. Em Darjeeling, a mão-de-obra equivale a 60% dos custos de produção. Embora seus chás tenham um alto valor, a maioria dos produtores está, na melhor das hipóteses, apenas se equilibrando financeiramente.
A mecanização é inevitável, em muitos casos, e também é sensato do ponto de vista financeiro e de produtividade. Por exemplo, uma grande fábrica de processamento relata que embalar uma remessa a granel de folhas requer 20 trabalhadores levando um dia inteiro para concluir a tarefa. O suporte do robô reduz para seis trabalhadores e meio dia. A qualidade do chá não é afetada.
Quando a mecanização substitui o trabalho nos campos, historicamente, a qualidade caiu. Duas folhas e um broto significam seletividade da folha e cuidado na colheita. A colheita mecanizada carece de ambos, pelo menos até o momento. A maquina agarra o que suas lâminas de corte encontram, ao invés do que um olho habilidoso vê. Isso incluirá folhas danificadas, talvez galhos e folhas mais grossas. Tesouras manuais tendem a danificar os galhos do arbusto e as grandes máquinas cortam mais abaixo do arbusto, aumentando o volume da colheita, mas derrubando as folhas, o que se evitaria na colheita manual de um jardim especializado ortodoxo. Estudo após estudo confirma que a colheita mecanizada reduz a qualidade.
Por outro lado, o agronegócio significa maior safra e redução dos custos de colheita pela metade. A tecnologia está sendo desenvolvida para tratar de questões de qualidade. Os altos custos de mão de obra do Japão e o declínio da população tornaram-no líder na implantação de sistemas avançados, incluindo experimentos com visão mecânica e inteligência artificial para combinar as habilidades dos humanos com a produtividade das máquinas. Embora a colheita de tecnologia robótica ainda esteja a pelo menos uma década de ser prática e acessível, a cada ano haverá mais e mais extensão de máquinas nos campos do cultivo de chá para o agronegócio e como uma parte natural dos princípios do CTC ( Crush, Tear,Curl – esmagar, rasgar, enrolar)
Isso demonstra que treze milhões de trabalhadores na indústria do chá perderão totalmente o emprego. Em algumas regiões de cultivo de chá, especialmente na China, a escassez de mão de obra está crescendo e as máquinas são preenchimentos essenciais. Em outros, existe uma tensão constante que pode evoluir para conflitos sociais entre sindicatos, produtores e planejadores econômicos sobre o controle ou liberalização do uso de máquinas.
A principal preocupação são com as exportações e os rendimentos uma prioridade vital em um mercado global de intensa competição de preços.
Os dois caminhos:
O agro como modelo de negócio, o CTC como modelo de produção e a mecanização como futuro. O cultivo artesanal, como modelo de processamento ortodoxo e mão de obra qualificada – uma herança.
Esses dois caminhos são, até certo ponto, uma escolha ou / ou. Para muitos produtores, é a opção de comoditização para atender às realidades financeiras ou continuar a produzir um chá especial de qualidade superior, enquanto supera as pressões financeiras. Para o consumidor de chá, é mais uma questão de Agronegócio e Artesanal. Há muitas opções.
“Tea Tips” aponta para o caminho mais longo, ou seja, o artesanal. O chá é muito melhor. Se você gosta de um produto do agronegócio, há sempre um chá ortodoxo equivalente.
Chás de montanhas e chás de terras baixas
A maioria dos melhores chás têm sua origem em montanhas. E por que?
Existem vários fatores que tornam as montanhas mais propensas a produzir chá de qualidade superior. O chá de regiões montanhosas depende dos padrões das estações e temperaturas úmidas-secas: frio para deixar as plantas dormentes e acumular nutrientes e calor para fazê-las desdobrar suas folhas e começar a ativar seus compostos químicos. Com o chá cultivado em altas montanhas, há o retardamento do crescimento dos novos brotos e folhas, o que aumenta a densidade dos nutrientes. Mas diminui a produção de folhas, reduzindo o volume de produto disponível para venda. A agricultura em terras baixas aumenta a produtividade, mas a folha tende a ser mais grossa, reduzindo a qualidade.
Chás Aromatizados e Tisanas
Muitos dos aromatizantes dos chás em saquinho são químicos não naturais, ou seja, sintéticos, e podem incluir aditivos: adoçantes, conservantes, corantes artificiais, etc. A nova geração de chás aromatizados e misturados usa ingredientes frescos, naturais e de melhor qualidade.
Um exemplo típico é o chá Earl Grey, um dos chás pretos mais populares e mais conhecidos. O melhor e autêntico Earl Grey usará aroma natural cítrico de bergamota (Citrus Bergamia Risso et Poit) é uma planta cítrica que cresce quase exclusivamente na estreita região costeira da Calábria, no sul da Itália, responsável por 80% da produção mundial dessa fruta, enquanto um chá Earl Grey comum pode conter extrato e essência de cítricos de qualidade inferior.
Uma das tendências mais atraentes nos últimos anos, são os chás aromatizados, que contém como base o chá, misturado com vegetais, pétalas e botões de flores, ervas e especiarias. O hibisco, rosa, lavanda, camomila, jasmim e as especiarias são os mais favoritos.
Já os tisanes ou tisanas, que não são chás , porque não contém a folha do arbusto Camellia Sinensis, são misturas de flores, frutas, ervas e especiarias. As harmonizações são as mais variadas e caem no gosto popular dia a dia, muitas vezes pela sua praticidade e seu apelo colorido e aromático, tornando-se um convite para bebidas geladas no verão.
As tisanas não contêm cafeína, um mérito frequentemente proclamado ou mesmo um símbolo de pureza moral para os chás de ervas. Uma das expansões intrigantes dos botânicos é que a cafeína não é mais o inimigo. Muitas inovações do chá botânico da América Latina contêm cafeína. O chá de Porangaba é popular no Brasil. As empresas do Equador obtêm botânicos da floresta amazônica e oferecem um chá guayusa que vem de uma das três únicas plantas de azevinho ilex com cafeína. Erva-mate, a principal bebida não alcoólica da América Latina, contém cafeína.
Esse espírito de variedade, experiência e, acima de tudo, inovação de sabor é uma tendência geral marcante em todas as bebidas. Uma pesquisa relata que o aparecimento da palavra “botânico” nas embalagens de bebidas alcoólicas aumentou quatro vezes entre 2011 e 2015. Definitivamente, esses não são os chás, cafés e coquetéis de ontem.
Concluindo: Além de a maioria dos chás serem do agronegócio, eles são os que as pessoas em geral associam ao “chá” sem saber que existem alternativas. Alguns, por exemplo, evitam o chá porque é amargo, mas também não foram orientados para o seu correto preparo ou compraram apenas algo sem procedência ou autenticidade. Outros estão satisfeitos, mas não entusiasmados, com seu chá preto comum em saquinho. Ou tentam o chá verde e simplesmente não gostam, só adquirem pelo apelo à saúde e perda de peso, O real é que há um aprendizado por trás de cada categoria. Não conhecer faz com que a maioria dos consumidores não tenham noção da opção de escolhas e não tenham oportunidades do prazer de saborear chás de qualidade superior.
(Tradução livre: Elizeth R.S. v.d. Vorst)
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