A Logística do Chá

A logística do chá é uma matéria de suma importância dentro das atividades comerciais, desempenhando um papel importante para a qualidade do chá.

Há uma complexa e longa cadeia de suprimentos até o chá chegar à sua xícara. As folhas são cultivadas e colhidas manualmente para os melhores chás e através de máquinas para a maioria de chás commodities. A produção de chá passa por fábricas, muitas das quais têm tamanho e poder para comprar as folhas dos produtores locais. Algumas regiões onde há o chá artesanal, funcionam como cooperativas no processamento de suas folhas.  Grandes fazendas, sem surpresa, operam grandes fábricas cada vez mais automatizadas. Portanto, o chá que você compra percorre um longo caminho até chegar à sua xícara, seja através de lojas especializadas, online ou supermercados. A maneira como é conduzido este caminho, tem um impacto substancial em sua qualidade, segurança e confiabilidade.

…da colheita à finalização da folha

O chá em si, já é um produto surpreendentemente complexo, não apenas em sua química, mas também em sua distribuição.
Os métodos de aquisição do chá que inclui etapas como: os leilões ou diretamente do produtor, seu armazenamento, transporte rodoviário local, embarque para exportação, inspeção, embalagem, mistura, procedimentos alfandegários, regulamentos e leis para sua importação( que são diferenciadas de país a país), testes etc. afetam não apenas os produtores e fornecedores, mas também o consumidor de chá.

A “qualidade” e “valor” do chá depende da excelência “ponta a ponta”, ou seja, o fornecimento  a partir da colheita/produção até o abastecimento no ponto de venda.

Os consumidores querem, cada vez mais, saber sobre o que estão consumindo: ingredientes, origem, condições do trabalhador, segurança, isenção de contaminação e outras considerações. Eles esperam que os fabricantes, misturadores, embaladores, marcas, exportadores e importadores assumam a responsabilidade pela confiabilidade do fornecedor e pelas preocupações sociais. O termo geral que a indústria está adotando é “transparência”; as informações devem estar claras.

Principais desafios a se enfrentar:

Autenticação e rastreabilidade: Informações acessíveis de ponta a ponta sobre exatamente onde o chá foi cultivado e, no caso de chás especiais, até mesmo a data e lote em que foi processado, seu movimento ao longo da cadeia de abastecimento.

Um típico exemplo: a maioria dos chás em saquinhos do “English Breakfast” contém uma mistura de ingredientes de vários países, até dezenas. Muitas vezes, eles são enviados de um país, como Quênia ou Sri Lanka, para outro , onde são processados e reexportados. A rotulagem fornece pouca ou mesmo enganosa informação sobre a fonte de origem. A maior empresa “inglesa” de chás em saquinhos, os fabrica principalmente em Dubai e o famoso Earl Grey (top inglês) é misturado e embalado na Polônia.

Frescor : O frescor é o primeiro teste ao comprar chá.
O chá permanecerá fresco se for embalado à vácuo imediatamente após seu processamento e depois armazenado em condições apropriadas, sem prejudicar sua integridade e propriedades.

A embalagem é um ponto chave em toda essa logística. O produto em sua origem estará sujeito a muitos procedimentos, incluindo despachos aéreos internacionais, transporte local de fábrica, vários leilões, corretagem e atacado, ensacamento tradicional para expedição (que geralmente envolve atrasos de aproximadamente um mês no porto), controle de absorção de umidade, vapores e até produtos químicos ao longo desta série de procedimentos.

Os grandes comerciantes / atacadistas e importadores de chá possuem um aparato tecnológico e especialistas, que verificam todos os requisitos necessários para garantir que o produto esteja em todas as condições e qualidade necessárias para a embalagem e validade, obedecendo a um procedimento logístico adequado até o recebimento da mercadoria. E isso também beneficiará seus distribuidores e consumidores finais.Uma questão fundamental para escapar aos detalhes desconcertantes da cadeia global de suprimentos de chá é a confiabilidade no fornecedor. Algumas dicas e verificações simples podem ajudar.

Procure um fornecedor ou importador perto dos produtores e /ou fabricantes ou com intensos e significativos relacionamentos, com conexões diretas de serviço e entrega ágil. Isso facilitará a obtenção do seu produto com confiabilidade.

Compras de varejistas ou lojas gourmet: verifique sempre se o produto é de qualidade, não só a embalagem o demonstra.

Loja especializada- o bom atendimento e informações são cruciais

Loja especializada em chá: Desfrute da atmosfera, experimente amostras e converse com um proprietário experiente e entusiasta. As lojas especializadas estão tentando diferenciar a experiência de compra para competir com grandes vendedores on-line, personalizando o atendimento.

Leia os ingredientes: A lista de ingredientes está sujeita a regulamentação local. Informações como o tipo de chá e sua origem são fundamentais.

Os muitos atrasos e ineficiências na jornada do arbusto à xícara não se limitam a apenas semanas e a validade dos chás puros são de até 2 anos. Entretanto, há de se observar que os grandes e sérios exportadores mantêm um ritmo logístico bem eficaz para que se mantenha o frescor das folhas. O importador também tem um papel importante neste processo, pois deverá dar continuidade a esta jornada e manter o compromisso da rotatividade do seu produto, não prolongando em demasia o seu estoque.

Falsificação e adulteração: este é um problema em duas áreas muito diferentes: a produção de chás de commodities a granel tem em vista quantidade e não qualidade, com um custo reduzido para atender às crescentes pressões do mercado; e chás especiais,  em que as melhores qualidades têm um valor muito alto, tornando-se menos competitivo.

Um exemplo típico de diferencial em produto é o Matcha. Vários anúncios do mesmo tipo são vistos. Parecem comparáveis, mas investigue um pouco e encontrará diferenciadores positivos e negativos. Poderá encontrar um matcha japonês, mas que é feito na China, outro que nem lista a origem, mas que é apenas uma mistura de matcha. Pode haver até uma descrição como sendo “premium” “culinário” ou “latte grade”…. será?

Outro exemplo, frequentemente citado é sobre a produção do chá Darjeeling. Conforme o “Tea Board of India” estima-se que 40.000 toneladas/ano de chás foram vendidos como sendo Darjeeling, só que o distrito somente produz 10.000 ton/ano.
A lacuna foi preenchida por um muito menos caro: chá do Nepal contrabandeado – grande parte excelente, mas sem origem. Nestes últimos anos, houve escândalos em grande escala sobre Oolongs de Taiwan falsificados por folhas de commodities vietnamitas a granel. O chá contrabandeado é vendido com desconto de 30% no Paquistão.

Pesticidas : Os pesticidas são uma preocupação recorrente com os chás. Os arbustos são vulneráveis a centenas de predadores que prosperam nos climas úmidos das regiões de cultivo de chá, e vários produtores de chá usam pesticidas. Sem controle cuidadoso e contínuo as perdas de safra chegam a 40%.
Alguns optam cultivar por métodos orgânicos ou usando métodos naturais de controle de pragas. O que preocupa são os níveis químicos presentes no chá. Isso é medido por meio do MRL( Nível Máximo de Resíduo).  Algumas vezes, a responsabilidade de verificar se há níveis mais elevados de produtos químicos no chá, recai sobre os misturadores, empacotadores e no transporte. Muitos exportadores colocam o ônus do teste sobre os produtores. Alguns optam por optar apenas por produtores certificados, sejam ou não orgânicos.

Padrões de fornecedores, especialmente em responsabilidade social: Nos últimos anos, mais e mais empresas que compram, misturam, embalam e distribuem chá, aceitaram que têm a responsabilidade moral e cada vez mais legal, de garantir o apoio a apenas produtores e processadores que cumpram as boas práticas em muitas áreas, tais como condições de trabalho e pagamentos, o uso responsável de pesticidas e testes no chá, enfim segurança sob todos os aspectos.

Sustentabilidade

Desenvolvimento sustentável: o chá é uma das culturas mais vulneráveis globalmente às interrupções das mudanças climáticas, contaminação do solo e danos ambientais, perda de terras agrícolas, poluição e tantas outras ameaças. Garantir eficiência de custos e rendimentos são prioridades atuais.

A indústria do chá reconheceu que os consumidores realmente se preocupam com o desenvolvimento sustentável. Eles querem saber mais sobre seu chá, especialmente seus ingredientes naturais, como os trabalhadores são tratados – o tráfico de “escravos” é uma preocupação explícita – sua salubridade e a verdade na rotulagem. Os reguladores estão aumentando seu foco na segurança, com o FSMA (Food Safety Management Act) dos EUA, um plano abrangente que aborda a responsabilidade de todas as partes na cadeia logística. A União Européia e o Japão têm padrões de teste muito rígidos para o monitoramento de pesticidas.

Cada vez mais os melhores produtores e vendedores estão fazendo da logística um diferencial do produto- Isso significa que: DE QUEM  você compra pode ser tão importante quanto O QUE você compra. É por isso que vale a pena ter uma boa ideia da logística do chá. Ajudará a ter uma noção melhor da qualidade dos chás e de seus fornecedores.

A “qualidade” e “valor” do chá depende da excelência “ ponta a ponta”, ou seja, o fornecimento a partir da colheita/ produção até seu abastecimento no ponto de venda.

Qualidade no conteúdo da embalagem.

Você deseja o melhor chá – melhor prazer, melhor sabor, melhor aroma, melhor qualidade, melhor valor?  Adicione a tudo isso a melhor logística.

Tradução livre e reedição: Elizeth R.S.v.d.Vorst

Todos os direitos reservados- “Tea Tips” de Peter G.W. Keen

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